Fez quase dois anos que não saímos, nesse tempo em que estivemos parados aconteceu muita coisa. Pela minha parte tive a vida feita em cacos e ele não teve melhor sorte. Sujeito aos temporais e à falta de atenção foi-se estragando, fomos-nos estragando, cada um à sua maneira. Na ultima visita saí da doca em lágrimas.
O Sirius era o meu barco, quando o comprei era pouco mais do que destroço irrecuperável. Trabalhei nele durante seis meses todos os fins de semana, todos os feriados e durante mais 15 dias de férias. Durante esse tempo foi completamente refeito. Senti o momento em que entrou na água como uma
Vitoria. Não percebia nada de construção naval mas mesmo assim consegui, com a ajuda de muitos amigos lá chegou à água.
O facto de ter chegado à agua não era um fim em si, foi apenas o principio. Não sabia velejar, tudo o que aprendi foi foi por experiência e com o meu barco. Precisava de sentir a sua presença mesmo que não tivesse tempo para andar, era importante saber que podia sair pela barra do Tejo... sonhar que tinha a liberdade seguir em frente até aos mares do sul.
Nunca fomos muito longe, umas quantas viagens de Lisboa até ao Portinho da Arrabia e Setúbal, um regresso com mau tempo que durou uma eternidade, outras tantas regatas.Cada saída era uma aventura, e passamos umas quantas.
Este fim de semana entreguei-o a quem podia cuidar dele melhor do que eu. Estou triste. Foi claramente o melhor, talvez mais para ele do que para mim, e de qualquer forma foi mais um corte com o passado. Mais um passo de um caminho.